quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sobre Albert Borgmann

Albert Borgmann nasceu em Freibug - Alemanha, em 1937.
É filósofo americano, PhD em Filosofia da Tecnologia. Atualmente é professor de Filosofia da Universidade de Montana.

Sua obra contribui para as discussões filosóficas sobre a tecnologia moderna, seguindo o ponto de vista de Heidegger - autor seminal sobre a sociologia da tecnologia e representante da fenomenologia no tratamento da tecnologia.

Borgmann organiza suas propostas em torno do "Device Paradigm" - traduzido neste trabalho como "Paradigma dos Dispositivos". Ressalta-se que o termo paradigma não pode ser interpretado à luz de Khun. Infere-se que o termo paradigma é utilizado por Borgmann com certa ironia, para assinalar a força dos instrumentos sobre a inevitabilidade dos mesmos, o que é amplamente criticado pelo autor.

De acordo com Trigueiro (2009,  p. 47), a obra de Borgmann contribui "para as discussões filosóficas sobre a tecnologia moderna, seguindo o ponto de vista de Heidegger (...)  Ele defende que os novos propósitos para as tecnologias modernas devem ser definidos à luz de coisas focais.  Não se trata simplesmente de mudar fins, mas sim de discutir o papel da tecnologia na relação da boa vida".

Nesse sentindo, Trigueiro (2009, p.47) argumenta que, na visão de Borgmann, "a tecnologia permanece, nessa última perspectiva, algo misterioso, mágico, dotado de força própria, capaz apenas de ajustar-se a determinados objetivos humanos". O autor (Trigueiro, 2009, p.47) nos lembra que esse lado misterioso e autônomo se evidencia também na obra de Heidegger, ao retificar o standing reserve e ao estabelecer, para a condição ontológica, um poder acima das forças, conflitos e pressões sociais. Nas palavras de Heidegger, algo do qual "Somente um Deus poderia nos salvar".

O texto que fundamentou o trabalho apresentado nesse blog foi:

BORGMANN, Albert. Focal things and practices. In: SCHARFF, R. C.; DUSEK, Val. Philosophy of Technology: the technological condition: an ontology.  Oxford: Blackwell Publishing, 2006.

Livro de Apoio:
TRIGUEIRO, Michelangelo Giotto Santoro. Sociologia da tecnologia: bioprospecção e legitimação. São Paulo: Centauro Editora, 2009. 200p.

Para saber mais sobre Borgamann, <clique aqui>.

Resumo Focal Things and Practices

Em seu texto Focal Things and Practices (traduzido aqui como Práticas e Coisas Focais), Boorgman nos relembra do significado do termo “focus” em latim. A partir de breve explicação, o autor introduz os conceitos de: dispositivos, coisas e commodities. 

A explicação traz à tona a função das coisas, dentre elas a função de aquecimento da lareira em uma casa que reúne a família. Borgmann comenta que hoje a função da lareira é simbólica, representando ‘coisas focais’ que permitem que o indivíduo reflita e entre em contato com o cerne do seu eu. Dentre as coisas focais citadas no texto e em entrevistas do autor, encontram-se o prazer da música, o contato com a natureza, a corrida, o prazer de se sentar à mesa dentre outros. Em paralelo, encontram-se no texto críticas ao excesso de dispositivos eletrônicos, como, por exemplo, o aquecedor que desconecta o homem das ‘coisas focais’.

Na sequencia, Borgmann traz o significado atual do termo ‘focus’ – um termo técnico para geometria e ótica. Ele comenta que Joanes Keples foi o primeiro a usar o termo com esse sentido e ele provavelmente o desenhou no sentido então já vigente de foco como ponto de fusão (burning point) de lentes ou espelhos.


Borgmann argumenta que “esses sentidos técnicos de focus têm convergido harmonicamente com o sentido original na linguagem comum”. A partir de então o autor comenta que uma coisa focal traz um centro de orientação, consequentemente torna a nossa relação com a tecnologia mais clara e definida. Sua argumentação segue no sentido de o quão as coisas focais são imperceptíveis, simples e dispersas. E isto está em um forte contraste para as coisas focais da era pré-tecnológica.

Em seguida, Borgmann traz aspectos do trabalho de Heidegger em seu texto e comenta que “ver o trabalho da arte como foco e a origem do significado do mundo foi uma descoberta essencial para Heidegger”. Borgmann nos lembra  que Heidegger encontrou e estressou o inexorável e intransponível perdão da existência humana e forneceu análises da sua completude tecnológica e sua distração tecnológica, embora a significância dessas descrições para a tecnologia tenham permanecido ocultas para ele.

Porém, Heidegger insiste que a pergunta permanece – “a arte continua sendo uma maneira essencial e necessária onde a realidade acontece, o que é decisivo para a existência histórica, ou a arte já não tem esse caráter de importância? ” – Heidegger começou a ver a tecnologia (no seu sentido mais ou menos substantivo) como a força que refutou as forças focais da época pré-tecnológica. Tecnologia se tornou para ele ... a fase final de um desenvolvimento metafísico. A preocupação filosófica com as condições da possibilidade de que o que quer que seja é visto por si mesmo como um passo para o esquecimento do que realmente importa. Porém, como estamos para recuperar a orientação na era da distração e do esquecimento em função da tecnologia, onde a grande personificação do significado dos trabalhos de arte perdeu suas forças focais?

Borgmann nos leva a refletir - As coisas simples de ontem podem atingir um novo esplendor no contexto tecnológico de hoje?

Em seu texto, Borgman comenta que o que deve ser mostrado é que as coisas focais só podem prosperar em práticas humanas. 


Para George Sheehan, a corrida revela o divino. Segundo ele, quando se está correndo, duela-se com Deus. Correr de forma séria nos leva aos limites de nossa existência. Corremos até sentirmos uma dor aparentemente insuportável. Às vezes, claro, mergulhar nesta experiência pode nos prender à vaidade e à ambição. Porém, sofrendo em nossos limites podemos experimentar nossa grandeza também. 


Este, certamente, é um lugar esperançoso para fugir da tecnologia, da metafísica e do Deus dos filósofos e chegar ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó.

Se correr nos permite centrar nossas vidas tendo no mundo através de vigor e simplicidade, a cultura da mesa o faz unindo simplicidade com riqueza cósmica


O ser humano é um ser tão complexo e capaz que ele pode razoavelmente compreender o mundo e, contendo-o, constituir um cosmos por direito próprio. Porque nos posicionamos tão eminentemente mais contra o mundo, que entrar em contato com o mundo torna-se para nós um desafio e um evento importante. Num primeiro sentido, já estamos sempre no mundo, respirando o ar, tocando o solo e sentindo o sol na pele. Porém, podemos em outro sentido retirar-se do mundo real e presente, contemplando o que é passado e futuro, o que é possível e remoto, celebramos, correspondentemente, a nossa intimidade com o mundo. Isso nós fazemos mais fundamentalmente quando comendo, tomamos o mundo em seu imediatismo palpável, colorido e nutritivo. 

 

 Verdadeiramente, a alimentação do ser humano é a união do primitivo com o cósmico. O mundo está reunido na simplicidade do pão e vinho, e da carne e do vegetal.




Reunião Familiar na Refeição

 A grande refeição do dia, seja ao meio-dia ou à noite, é um evento focal por excelência. Isto reúne a família dispersa em volta da mesa. E na mesa isto reúne as coisas mais deliciosas que a natureza trouxe à tona. Isto também relembra e apresenta uma tradição, as experiências imemoriais da raça na identificação e cultivo de plantas comestíveis, em domesticar e massacrar animais; isto traz para o foco as relações estreitas de costumes regionais ou nacionais e as tradições mais íntimas se mantém nas receitas e pratos de família.


Refeição como commoditie.
Isto é evidente dos capítulos anteriores como este estilo de vida está sendo empregado através da busca por comida como uma commodity e a substituição da cultura da mesa pela indústria de alimentos. Uma vez que comida se tornou altamente disponível, isto consiste na quebra da reunião para as refeições e se desintegra em lanches, jantares em frente a TV, mordidas no que pode ser comido; e comer por si só está disperso em volta de shows de televisão, no início e no fim de reuniões, atividades, trabalhos em hora-extra entre outros negócios. Isto é crescentemente uma condição normal da refeição tecnológica


 
Estamos destituídos da cidadania mundial quando os alimentos que consumimos são meras commodities!!!!




Sendo essencialmente superfícies opacas, eles repelem todos os esforços para aumentar a nossa sensibilidade e competência em trechos mais profundos do mundo. Um Big Mac e uma Coca-Cola podem sobrecarregar nossos paladares e acomodar a nossa fome. A tecnologia não é, afinal, uma cruzada de crianças, mas uma empresa com princípios e habilidades na definição e satisfação das necessidades humanas. Através do desvio e dos negócios de consumo podemos ter desaprendido a nos sentir constrangidos pela superficialidade das commodities

Mas lidando por um bom tempo e muito bem, ao que parece, em alimentos institucionais ou de conveniência, escalas caem aos nossos olhos quando incrementamos uma mesa de família festivamente arrumada. Os alimentos destacam-se com mais clareza, as fragrâncias são mais fortes, comer tem mais uma vez se tornado uma ocasião que envolve e nos aceita plenamente.

Podemos ver como a ordem e a disciplina entraram em colapso quando comemos um Big Mac. No consumo, há uma fusão pontual e inconsequente de uma necessidade humana acentuada com uma commodity igualmente fora do contexto e altamente ajustada. Num Big Mac, a sequência de cursos foi compactada em um objeto e a disciplina de boas maneiras à mesa foi reduzida a agarrar e comer. O contexto social não chega além dos rostos agradáveis e mãos rápidas das pessoas que dirigem o restaurante de fast-food.  


Em uma refeição festiva, no entanto, a comida é servida, um dos gestos mais generosos que os seres humanos são capazes. Assim, comer em um ambiente focal difere muito do anonimato social e cultural de um restaurante de fast-food.
 


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Esse resumo ainda não foi finalizado. 
Em breve será atualizado.

Vídeo para Reflexão

O vídeo foi produzido a partir das leituras do texto Focal Things and Practices de Albert Borgmann, bem como a partir de textos e entrevistas sobre o autor.

Esse vídeo não tem uma perspectiva completa da obra de Borgmann, tão pouco aborda de forma profunda a teoria heideggeriana  e sua influencia nos trabalhos de Borgmann.

Sua proposta resume-se a uma reflexão sobre o uso da tecnologia no dia a dia da nossa sociedade, seus benefícios, suas implicações. O desejo é que proporcione uma reflexão pessoal de onde nos posicionamos enquanto seres humanos nessa sociedade tecnológica. Onde está o cerne do nosso eu? Quais são as nossas coisas focais? As coisas focais da era pré-tecnlógica ainda permanecem como coisas focais na sociedade atual?

Uma reflexão minha, em particular foi tentar compreender quais são as coisas focais para as diferentes gerações (Tradicionalista, Baby Boomer, Geração X e Geração Y)? Como os filósofos compreenderão as coisas focais da Geração Y, uma geração que nasceu em um mundo com Internet e completamente on-line? Qual o sentido da arte para eles? Qual o sentido da música em uma orquestra quando tão acostumados ao seu iPod?

Borgmann comenta sobre a perda de convivência diante da televisão. Porém, em 2013 temos algo muito mais forte do que a televisão - as redes sociais e toda a magia provocada pelo compartilhamento de informações on-line sem a necessidade de saber linguagens de programação, tais como HTML ou XML (a maquinaria, nas palavras de Borgmann). Percebe-se nitidamente o acompanhamento da vida humana pelas redes sociais (formada por seus atores sociais, seus grupos e os laços sociais entre esses grupos ) em uma espécie de ágora eletrônica onde se encontram declarações de amor, homenagens  póstumas, desejos de feliz aniversário dentre outros. Aqui sim percebe-se que as interações sociais ocorridas entre os seres humanos está mudando de forma jamais vista, em função do fenômeno da web 2.0, ou colaborativa.

Teremos uma mudança de coisas focais em função do comportamentos das diferentes gerações?


Espero que o vídeo exemplifique melhor o que tentei abordar em poucas palavras neste post.









quarta-feira, 22 de maio de 2013

A nossa Vida no Futuro

Colegas, 
 
Posto aqui a contribuição dos Carlos Afonso.
 
Mais um vídeo para refletirmos. 
 
Usem a tecnologia (internet, computador...) para ver a tecnologia se promover!
Como a promessa da tecnologia é atraente!Como ela é uma forma de vida!
A vida conforme o paradigma tecnológico, tem um glamour que explica em parte a sua propagação (Borgmann).


Vejam, que até está bonitinho!
 
 
 
 

Carlos, obrigada!